Desconhecida por muitos, quando a síndrome de Tourette (ST) surge em uma pessoa, geralmente lhe causa diversos encômodos e desconfortos, principalmente no meio social e familiar. Meu objetivo principal neste espaço é discutir sobre esta síndrome, para torná-la entendível para o maior número de pessoas que eu conseguir atingir. Com isso pretendo dissipar o conhecimento e consequentemente, tentar diminuir o sofrimento dos portadores e de seus familiares, que muitas vezes acabam sendo potencializados pela falta de compreensão da sociedade em geral, de profissionais da saúde e da educação.
Tanta coisa para postar, tanta informação para compartilhar...
Espero que gostem da iniciativa! Na verdade, decidi criar este blog porque guardo em meus estudos, artigos publicados e entrevistas, algumas informações interessantes que pude perceber do funcionamento de pacientes com essas três problemáticas centrais: Transtornos de Ansiedade, Transtornos de Humor e Síndrome de Gilles de la Tourette (ST).
Iniciei os estudos com a ST em 2004. O que me chamou muita atenção para esse Transtorno é o pouco caso para o estudo da mesma em faculdades de psicologia,da área médica e da educação. Lembro como se fosse hoje a aula de psicopatologia, com um excelente professor, que pincelou, na classificação dos transtornos encontrados pela primeira vez na infância e/ou adolescência , que havia uma síndrome que se constituía por múltiplos tiques motores e ao menos um vocal, e que isso trazia também prejuízos no humor e gerava ansiedade altíssima no portador. Fui para casa pensando..."tantos transtornos aprendemos e tão poucos entendemos!"
Curiosa de nascença, começou aí meu facínio pelo estudo da Síndrome, de Tourette em 2003, e de lá para cá meu objetivo central é tornar entendível suas peculiaridades para o públco leigo, profissionais da educação e da saúde.
Obviamente, em 2005 fiz meu projeto de conclusão de curso sobre esse tema. Mais precisamente o título era: "A Síndrome de Tourette e as relações familiares: percepções, sentimentos e atitudes". Dentre os profissionais da banca estava o Dr. Hélio Teive, admirado por mim por ser um profissional com grande entendimento no assunto. Ele foi quem me auxiliou a encontrar pessoas com a ST para participarem da pesquisa. Deu um trabalho! Nos arquivos do Hospital de Clínicas de Curitiba encontrei pouquíssimos candidatos a participar e na hora de procurar por eles, só consegui contato com um. Aí que o Dr. Hélio Teive abriu seus arquivos de seu consultório particular e encontrei 5 famílias as quais quero deixar aqui registrado o meu mais profundo agradecimento pela participação. Tive que ir na casa de cada um, realizar uma entrevista com o portador, depois com a família e por último, realizar uma intervenção conjunta. Deu trabalho, mas valeu a pena! Pelo menos alguns de meus colegas de classe se formaram sabendo o que é a ST e eu...me apaixonei pelo tema!!!
Em 2007 tive uma coluna chamada "Saúde & Bem Estar" no jornal Bolsão de SC. A coluna tinha edição semanal, onde eu escrevi artigos sobre Transtornos de humor, ansiedade e Síndrome de Tourette. Foi um bom projeto de divulgação destas problemáticas. Aos poucos vou postar alguns dos artigos. O primeiro segue abaixo e tem a função de explicar sobre tiques e síndrome de Tourette.
Tiques: caretas, movimentos corporais e vocábulos intrigantes
Uma breve explicação sobre os tiques e a Síndrome de Tourette
Quantos de vocês já se depararam com pessoas que realizam movimentos ou sons intrigantes. Sons ou gestos que muitas vezes causam curiosidade aos que os vêem. Pode-se também pensar em quantos de vocês leitores, em algum momento de suas vidas, já fizeram algum tipo de tique - popularmente chamado de cacoete.
Não raros, os tiques estão presentes no cotidiano de crianças e alguns adultos. Geralmente não devem ser considerados preocupantes em crianças com idade pré-escolar, entretanto, há casos onde os tiques tornam-se fator de incômodo e desajustamento no meio social, tratando-se então de Transtornos de Tiques. Estes são distúrbios do movimento, caracterizados pela execução de um ou mais movimentos ou de uma ou mais vocalizações de forma súbita, não rítmica, esteriotipada, rápida e recorrente. Por não ser uma atitude comum aos olhos da sociedade, muitas pessoas que tem esse tipo de "mania" acabam sendo discriminadas em grupos de amizades, empregos ou até mesmo no âmbito familiar.
O importante é não confundir uma simples mania com a necessidade incontrolável e prejudicial de realizar tiques.
Os tiques costumam afetar até 20% das crianças, mas em geral desaparecem espontaneamente em menos de três meses. Caso contrário, há suspeitas de tiques crônicos ou Síndrome de Tourette, a qual acomete 1% da população mundial.
A Síndrome de Tourette é caracterizada pela presença de múltiplos tiques motores e ao menos um tique vocal, muitas vezes associados ao Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtornos de Ansiedade, irritabilidade e/ou Depressão.
Para ser diagnosticado como Síndrome de Tourette, os tiques devem surgir antes dos 18 anos de idade, sendo que em aproximadamente metade dos casos, os primeiros sintomas consistem em um tique isolado - comumente o piscar de olhos. A idade média para o início dos sintomas da síndrome é entre os 6 e 7 anos, porém, pode ter início desde os dois anos de idade. Acredita-se que a Síndrome de Tourette é mais frequente do que se supunha. Estima-se que a prevalência seja de 5 a 30 em 10.000 crianças e 1 a 2 em 10.000 adultos, e que ocorre em média de 3 a 5 vezes mais em homens do que em mulheres. As causas desta intrigante síndrome ainda não são bem definidas, porém, as opiniões dividem-se entre fatores genéticos, perinatais, psicológicos e neurobiológicos.
A Síndrome de Tourette não tem cura, mas geralmente há considerável diminuição dos sintomas na idade adulta. Entretanto no período entre os 10 e 15 anos de idade, os portadores apresentam piora em seu quadro clínico. Alguns medicamentos, como estabilizadores de humor, ansiolíticos e antipsicóticos podem aliviar os sintomas da síndrome, por isso, torna-se essencial que pessoas que apresentam estes sintomas procurem ajuda de neurologistas ou psiquiátras. Juntamente ao tratamento medicamentoso, é aconselhável que os portadores se atenham as seguintes questões: realizem atividades físicas aeróbicas, a fim de aliviar suas tensões e descarregar suas energias (frequentemente acumulada com a tentativa da contenção dos tiques); diminuam a ingestão de alimentos que contém muito corante ou que sejam estimulantes, como a cafeína e o chocolate; e procurem à ajuda de um psicoterapeuta. Ele poderá trabalhar com o paciente questões como: sua auto-aceitação, aceitação de suas diferenças e seu enfrentamento para a problemática perante a sociedade; os transtornos de comportamento associados à presença dos tiques; o entendimento do processo da vontade de executar os tiques; ser um "porto seguro" para que o paciente e seus familiares (os quais geralmente sofrem muito com a situação do portador) possam trabalhar suas emoções, sentimentos e pensamentos frente à presença da Síndrome de Tourette em suas vidas; e o auxílio na entrega ao relaxamento corporal e mental, através de técnicas para tal, a fim de aliviar suas tensões e sua ansiedade.
O esclarecimento sobre esta síndrome tão curiosa e intrigante, porém tão pouco conhecida por profissionais de diversas áreas e, consequentemente, pela população em geral, pode ser um incentivo para que portadores e familiares sintam-se protegidos e aceitos em sua diferença. Mais sofrido que ter os sintomas típicos da síndrome de Tourette, muitas vezes, é a ignorância de profissionais e da sociedade em geral sobre o assunto, trazendo como consequência ao portador o rótulo de diferente e curioso, e com isso, muitas vezes a exclusão do mesmo de ocasiões às quais ele gostaria de participar - seja por desprezo ou vergonha das pessoas em geral ou por vergonha do próprio portador.
Mas afinal, como diferenciat TIQUES, SÍNDROME DE TOURETTE e TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO?
TIQUES: movimentos ou verbalizações súbitas, rápidas, esteriotipadas, recorrentes e não rítmicas.
SÍNDROME DE TOURETTE: múltiplos tiques motores e ao menos um tique vocal associados. Juntamente com os tiques, o portador pode apresentar Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Ansiedade e/ou Transtorno de Humor.
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO: "obsessões ou compulsões recorrentes, suficientemente graves a ponto de consumirem tempo ou causarem sofrimento acentuado ou prejuízo significativo no cotidiano da pessoa".
(Definições retiradas do AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002)
O que os três tem em comum é o ciclo de ansiedade que eles geram. O portador sente ansiedade por algo ou alguma situação, realiza o tique ou o ritual e isto gera um sentimento de "arrependimento", "vergonha" ou algum outro sentimento que por perturbar seu equilíbrio consigo mesmo e/ou com o meio gera ansiedade.
Como classificar e diferenciar os TIQUES?
Um tique pode ser classificado como idiopático ou sintomático (psicossomatização), sendo que na Síndrome de Tourette os tiques são definidos como idiopáticos – o qual é geneticamente determinado (TEIVE, 1998, p.163).
Há também sua classificação em decorrência da quantidade de músculos envolvidos para sua manifestação. Neste caso pode ser denominado como simples ou complexos.
A exacerbação dos tiques pode ocorrer de forma contínua ou em acessos, tendendo a apresentar períodos e desaparecimento espontâneos. Geralmente aparecem quando o portador está frente a situações de estresse ou quando sente-se à vontade para manifestá-los (geralmente na intimidade do lar) (TEIVE, 1998, p.163).
Os tiques também são classificados por motores ou verbais. Os motores são os movimentos impróprios exercidos em qualquer parte do corpo (inclusive a face). Nos verbais destacam-se os estalos, grunhidos, ganidos, fungadas, espirros, tosses, ecolalia – repetição de sons – e em 10% dos casos a coprolalia – tique verbal complexo que envolve a verbalização de obscenidades.
Exemplo de tiques mais frequentes:
Tiques Simples
Motores
Piscamento dos olhos; Eye Jerking (desvios do globo ocular); caretas faciais; movimentos de torção do nariz e boca; estalar a mandíbula; trincar os dentes; levantar dos ombros; movimentos dos dedos das mãos; chutes; tensão abdominal ou de outras partes do corpo; sacudidelas de cabeça, pescoço, ou outras partes do corpo.
Vocais
Coçar a garganta; fungar; cuspir; estalar a língua ou a mandíbula; Cacarejar, roncar, chiar, latir, apitar, gritar, grunhir, gorgolejar, gemer, uivar, assobiar, zumbir, sorver e inúmeros outros sons.
Tiques complexos
Motores
Gestos faciais; estiramento da língua; manutenção de certos olhares; gestos das mãos; bater palmas; atirar ou jogar; empurrar; tocar a face; movimentos de “arrumação”; pular; bater o pé; agachar-se; saltitar; dobrar-se; rodopiar ou rodar ao andar; girar; retorcer-se; posturas distônicas; desvios oculares(rodar os olhos para cima ou para os lados); lamber mãos, dedos ou objetos; tocar, bater em ou checar partes do corpo, outras pessoas ou objetos; beijar; arrumar; beliscar; escrever a mesma letra ou palavra; retroceder sobre os próprios passos; Movimentos lentificados ou inibição; bater com a cabeça; morder a boca, os lábios ou outra parte do corpo; ”cutucar” feridas ou os olhos; ecopraxia e copropraxia.
Vocais
Proferição súbita de sílabas inapropriadas, palavras- “ôps”, “êpa”, frases curtas e complexas incluindo palilalia, coprolalia e ecolalia. Outras anormalidades da fala como bloqueio da fala.
Adaptado de Hanna. (1995).
Apenas uma reflexão...
Síndrome de Tourette
Incontrolável, ou melhor, INSUPORTÁVEL!! É assim que a maioria, senão todas, as pessoas que tem síndrome de Tourette que eu tive o prazer de conhecer ou apenas conversar por email ou telefone descrevem como é conviver com os tiques.
Aos olhos de quem observa é angustiante. Perceber que um ser humano movimenta-se e emite sons que o fazem chegar ao seu limite de exaustão. Pude perceber algumas vezes que quando os tiques começam, quanto mais tentam controlar mais fortes e insuportáveis eles são manifestados. Quando adultos há um "controle na falta de controle". Com o passar dos anos, com a educação e a repressão social aprende-se a mascarar os tiques. Disfarça-los. A cobrança do meio por uma postura correta impede que os tiques sejam expressos livremente, então, o corpo reage se tensionando, prendendo o tique e encouraçando a vontade. Aí vem dores muitas vezes insuportáveis de nódulos de tensão. Horas de tanto fazer, horas por conter. E o que acontece então com quem não consegue ter esse pequeno "auto-controle" do disfarce? Infelizmente não são raros os casos de discriminação. Exclusão de vínculos de amizades, falta de oportunidade de emprego e vergonha de quem não tem como evitar a companhia de quem vive com tiques. Felizmente há muitas pessoas boas que auxiliam, ajudam, apoiam e entendem que a pessoa não é a síndrome de Tourette, mas apenas a tem.
É inevitável que as pessoas que cercam alguém com tiques, como no caso da síndrome de Tourette, vivenciem também sentimentos e emoções difíceis de serem trabalhadas. Conclui, numa pesquisa realizada, que raramente quem convive com alguém com síndrome de Tourette fica indiferente frente a esta problemática. As reações mais encontradas são de superproteção ou rejeição. Percebo que os que lidam com mais normalidade ou que apoiam e auxiliam o portador são os que tem mais acesso ao conhecimento do que se trata e como se ameniza a síndrome. Dentre outros fatores, este é o maior motivo pela importância da divulgação da síndrome. Tornar entendível aos leigos que quem tem tiques consegue lidar melhor com eles se for menos julgado, discriminado, satirizado e diferenciado.
(texto montado com base no desabafo de portadores em grupo terapêutico)
.
A Síndrome de Tourette, mais conhecida pelos tiques e pelo vocábulo de palavrões (presente em somente 10% dos casos), caracteriza-se por um conjunto de sintomas. Os elementos clínicos que compõem a ST são os tiques, o transtorno obsessivo-compulsivo, algumas vezes o déficit de atenção com ou sem hiperatividade e alguns problemas comportamentais ou de descontrole emocional, tais como: depressão, ansiedade, agressividade, etc
Com base na figura acima, fica mais claro entender que não necessariamente o portador tem todos esses sintomas e quando os tem, quase nunca são apresentados ao mesmo tempo. Por exemplo: o portador pode estar em um período com tiques, TOC e agressivo, em outro momento só depressivo. Em outro período ainda, pode estar só com TOC e ansiedade, e assim vai. Raramente o portador passa por uma fase sem nenhum sintoma e normalmente a ansiedade está presente em quase todas as fases do transtorno de To
Causas da síndrome de Tourette
Em pesquisa para escrever sobre as causas da ST encontrei na internet uma explicação que achei ótima, muito detalhada e fácil de compreender. Foi escrita pela Ana Gabriela Hounie que é vice-coordenadora do Protoc e pelo Eurípedes Miguel que é professor associado do departamento de Psiquiatria e coordenador do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (Protoc) do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.
O artigo completo deles é encontrado em http://www.neurociencias.org.br/pt/568/tiques-e-sindrome-de-tourette/
Abaixo segue o recorte do artigo em questão:
"Causas
Cerca de 1% da população mundial tem síndrome de Tourette, desde as formas mais brandas e não-diagnosticadas até as mais graves. Os tiques costumam afetar até 20% das crianças, mas em geral desaparecem espontaneamente, em menos de três meses. Caso contrário, há suspeita de tiques crônicos ou síndrome de Tourette.
A causa da doença é desconhecida, mas sabe-se que há influência de fatores genéticos e neurobiológicos. Estudos com famílias de portadores indicam que há uma transmissão genética da predisposição à síndrome. Entre gêmeos idênticos (monozigóticos), quando um irmão é afetado, em mais de 50% dos casos o outro também possui a doença. Se não forem idênticos, esse percentual é de 10%. Quando todos os tipos de tique são incluídos, e não apenas a síndrome de Tourette, a taxa de concordância entre gêmeos monozigóticos aumenta para 77%.
Investigações sugerem que também há uma relação entre problemas na gravidez e a ocorrência da doença no filho. Algumas mostram uma incidência 1,5 vez maior de complicações durante a gestação de portadores de tiques do que na de indivíduos saudáveis. Entretanto, nem todas as pesquisas conseguiram demostrar essa correspondência.
Os fatores psicológicos também podem ter grande influência no desenvolvimento do transtorno. Os tiques pioram, por exemplo, na presença de eventos estressantes, não necessariamente desagradáveis. Já se verificou que há uma associação entre o conteúdo dos tiques, seu início e os eventos marcantes na vida das crianças portadoras da doença.
Pesquisas
Estudos com ressonância magnética cerebral mostraram que há alterações em algumas estruturas cerebrais, conhecidas como gânglios da base e corpo caloso, de portadores da síndrome. Tomografias de maior precisão, que funcionam à base da emissão de partículas subatômicas (pósitrons e fótons), revelaram que esses pacientes, em geral, apresentam menor atividade em algumas regiões do cérebro, chamadas córtex frontal e temporal, cíngulo, estriado e tálamo.
Inúmeras pesquisas sugerem que a síndrome de Tourette seja influenciada por um substrato neuroquímico. A principal teoria dessa linha é que, nos portadores do transtorno, há uma atividade maior da dopamina, uma substância que auxilia na transmissão dos impulsos nervosos de um neurônio para outro. Medicamentos que inibem a ação da dopamina reduzem a intensidade e freqüência dos tiques, enquanto drogas que estimulam sua atividade causam exacerbação das manifestações.
A incidência da síndrome é maior no sexo masculino. Por isso, acredita-se que os tiques estejam relacionados a influência dos hormônios masculinos sobre o sistema nervoso central. Há relatos exacerbação dos sintomas associada ao uso exagerado de esteróides androgênicos, anabolizantes que aumentam a massa muscular. Em outros casos, os tiques intensificam-se no período pré-menstrual, o que demonstra uma relação do problema com o equilíbrio hormonal.
Alguns pesquisadores também sugerem que há uma relação entre os tiques e outros transtornos e anticorpos que atacam o cérebro (antineurais), produzidos pelo organismo para combater infecções causadas por estreptococos. Essa teoria baseia-se no fato de que algumas pessoas começam a apresentar tiques ou pioram seu estado depois de sofrerem infecções de garganta. Estudos realizados no Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (Protoc), do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, mostraram que a febre reumática, uma complicação posterior à infecção de garganta que está associada a alterações imunológicas, pode aumentar a chance de se ter síndrome de Tourette tanto nos pacientes como em seus familiares. "
Aos olhos de quem observa é angustiante. Perceber que um ser humano movimenta-se e emite sons que o fazem chegar ao seu limite de exaustão. Pude perceber algumas vezes que quando os tiques começam, quanto mais tentam controlar mais fortes e insuportáveis eles são manifestados. Quando adultos há um "controle na falta de controle". Com o passar dos anos, com a educação e a repressão social aprende-se a mascarar os tiques. Disfarça-los. A cobrança do meio por uma postura correta impede que os tiques sejam expressos livremente, então, o corpo reage se tensionando, prendendo o tique e encouraçando a vontade. Aí vem dores muitas vezes insuportáveis de nódulos de tensão. Horas de tanto fazer, horas por conter. E o que acontece então com quem não consegue ter esse pequeno "auto-controle" do disfarce? Infelizmente não são raros os casos de discriminação. Exclusão de vínculos de amizades, falta de oportunidade de emprego e vergonha de quem não tem como evitar a companhia de quem vive com tiques. Felizmente há muitas pessoas boas que auxiliam, ajudam, apoiam e entendem que a pessoa não é a síndrome de Tourette, mas apenas a tem.
É inevitável que as pessoas que cercam alguém com tiques, como no caso da síndrome de Tourette, vivenciem também sentimentos e emoções difíceis de serem trabalhadas. Conclui, numa pesquisa realizada, que raramente quem convive com alguém com síndrome de Tourette fica indiferente frente a esta problemática. As reações mais encontradas são de superproteção ou rejeição. Percebo que os que lidam com mais normalidade ou que apoiam e auxiliam o portador são os que tem mais acesso ao conhecimento do que se trata e como se ameniza a síndrome. Dentre outros fatores, este é o maior motivo pela importância da divulgação da síndrome. Tornar entendível aos leigos que quem tem tiques consegue lidar melhor com eles se for menos julgado, discriminado, satirizado e diferenciado.
(texto montado com base no desabafo de portadores em grupo terapêutico)
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A Síndrome de Tourette, mais conhecida pelos tiques e pelo vocábulo de palavrões (presente em somente 10% dos casos), caracteriza-se por um conjunto de sintomas. Os elementos clínicos que compõem a ST são os tiques, o transtorno obsessivo-compulsivo, algumas vezes o déficit de atenção com ou sem hiperatividade e alguns problemas comportamentais ou de descontrole emocional, tais como: depressão, ansiedade, agressividade, etc
Com base na figura acima, fica mais claro entender que não necessariamente o portador tem todos esses sintomas e quando os tem, quase nunca são apresentados ao mesmo tempo. Por exemplo: o portador pode estar em um período com tiques, TOC e agressivo, em outro momento só depressivo. Em outro período ainda, pode estar só com TOC e ansiedade, e assim vai. Raramente o portador passa por uma fase sem nenhum sintoma e normalmente a ansiedade está presente em quase todas as fases do transtorno de To
Causas da síndrome de Tourette
Em pesquisa para escrever sobre as causas da ST encontrei na internet uma explicação que achei ótima, muito detalhada e fácil de compreender. Foi escrita pela Ana Gabriela Hounie que é vice-coordenadora do Protoc e pelo Eurípedes Miguel que é professor associado do departamento de Psiquiatria e coordenador do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (Protoc) do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.
O artigo completo deles é encontrado em http://www.neurociencias.org.br/pt/568/tiques-e-sindrome-de-tourette/
Abaixo segue o recorte do artigo em questão:
"Causas
Cerca de 1% da população mundial tem síndrome de Tourette, desde as formas mais brandas e não-diagnosticadas até as mais graves. Os tiques costumam afetar até 20% das crianças, mas em geral desaparecem espontaneamente, em menos de três meses. Caso contrário, há suspeita de tiques crônicos ou síndrome de Tourette.
A causa da doença é desconhecida, mas sabe-se que há influência de fatores genéticos e neurobiológicos. Estudos com famílias de portadores indicam que há uma transmissão genética da predisposição à síndrome. Entre gêmeos idênticos (monozigóticos), quando um irmão é afetado, em mais de 50% dos casos o outro também possui a doença. Se não forem idênticos, esse percentual é de 10%. Quando todos os tipos de tique são incluídos, e não apenas a síndrome de Tourette, a taxa de concordância entre gêmeos monozigóticos aumenta para 77%.
Investigações sugerem que também há uma relação entre problemas na gravidez e a ocorrência da doença no filho. Algumas mostram uma incidência 1,5 vez maior de complicações durante a gestação de portadores de tiques do que na de indivíduos saudáveis. Entretanto, nem todas as pesquisas conseguiram demostrar essa correspondência.
Os fatores psicológicos também podem ter grande influência no desenvolvimento do transtorno. Os tiques pioram, por exemplo, na presença de eventos estressantes, não necessariamente desagradáveis. Já se verificou que há uma associação entre o conteúdo dos tiques, seu início e os eventos marcantes na vida das crianças portadoras da doença.
Pesquisas
Estudos com ressonância magnética cerebral mostraram que há alterações em algumas estruturas cerebrais, conhecidas como gânglios da base e corpo caloso, de portadores da síndrome. Tomografias de maior precisão, que funcionam à base da emissão de partículas subatômicas (pósitrons e fótons), revelaram que esses pacientes, em geral, apresentam menor atividade em algumas regiões do cérebro, chamadas córtex frontal e temporal, cíngulo, estriado e tálamo.
Inúmeras pesquisas sugerem que a síndrome de Tourette seja influenciada por um substrato neuroquímico. A principal teoria dessa linha é que, nos portadores do transtorno, há uma atividade maior da dopamina, uma substância que auxilia na transmissão dos impulsos nervosos de um neurônio para outro. Medicamentos que inibem a ação da dopamina reduzem a intensidade e freqüência dos tiques, enquanto drogas que estimulam sua atividade causam exacerbação das manifestações.
A incidência da síndrome é maior no sexo masculino. Por isso, acredita-se que os tiques estejam relacionados a influência dos hormônios masculinos sobre o sistema nervoso central. Há relatos exacerbação dos sintomas associada ao uso exagerado de esteróides androgênicos, anabolizantes que aumentam a massa muscular. Em outros casos, os tiques intensificam-se no período pré-menstrual, o que demonstra uma relação do problema com o equilíbrio hormonal.
Alguns pesquisadores também sugerem que há uma relação entre os tiques e outros transtornos e anticorpos que atacam o cérebro (antineurais), produzidos pelo organismo para combater infecções causadas por estreptococos. Essa teoria baseia-se no fato de que algumas pessoas começam a apresentar tiques ou pioram seu estado depois de sofrerem infecções de garganta. Estudos realizados no Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (Protoc), do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, mostraram que a febre reumática, uma complicação posterior à infecção de garganta que está associada a alterações imunológicas, pode aumentar a chance de se ter síndrome de Tourette tanto nos pacientes como em seus familiares. "